“Todo o mundo vai aplaudir as bichas”: produção das diferenças e reconhecimento a partir das fanfarras escolares da fronteira Brasil-Bolívia

Este artigo analisa como a escola está inserida no processo de diferenciação e reconhecimento de homens jovens efeminados que participam das fanfarras na fronteira Brasil/Bolívia. Através de etnografia e entrevista semiestruturadas, a partir da perspectiva teórico metodológica pós-crítica, observou-se ensaios e apresentações das fanfarras escolares na cidade de Corumbá, entrevistou-se direção de escola, instrutor e componentes de diferentes fanfarras. A partir da compreensão de um regime de visibilidade que permite a cidade ser reconhecida por muitos como “sem preconceito”, o reconhecimento dos jovens efeminados é compreendido a partir do espaço de agenciamento da escola. O contexto fronteiriço de diferenciação identitária é levado em consideração na análise. Conclui-se que, entre outras coisas, a visibilidade e atuação dos efeminados na cidade se dá via um contexto de preconceito e violência contra as experiências de gêneros e sexualidades dissidentes, no entanto, a fanfarra, via a sua constituição de gênero e sexualidade, permite que efeminados se destaquem e ganhem reconhecimento nos termos inteligíveis locais, isto é, de maneira binária, ainda que dissidentes, sem pôr em risco a imagem da escola e o lugar de masculinidade dos demais membros da fanfarra.